quarta-feira, 18 de março de 2015

Sobre ser dominado

“Quanto mais intensa é a preocupação do indivíduo com o poder sobre as coisas, mais as coisas o dominarão, mais lhe faltarão os traços individuais genuínos, e mais a sua mente se transformará num autômato da Razão formalizada”. (HORKHEIMER, MAX, 2002, P. 134)

Não é incrível como o homem colocou-se no centro de tudo? Como o uso da razão facultou a fantasia do domínio sobre a natureza, e como tal quimera trouxe-nos aos dias atuais sendo mais dominados que dominantes?
A predominância da polis constituindo equilíbrio entre o estado e seus membros, indivíduos “moldados” a imagem do herói grego, sempre subordinados, ao desejo de adequarem-se aos arranjos da sociedade urbana, contrapondo muitas vezes suas condições econômicas e sociais, protagonizam a crise atual do indivíduo.
Se uma vez para a “raça helênica” o indivíduo ético que constitui a polis, precisa buscar o bem e para tal precisa ser homem, proprietário e aristocrata, onde poderíamos chegar se não nesta configuração de sociedade consumista em que vivemos? Se já na antiguidade o possuir era fator primordial para se fazer enxergar, para ser ouvido, para se ter poder de argumentação, para ser cidadão!
Mais tarde a era da livre empresa, trouxe a “sensação” de que individualidade era apenas satisfazer interesses materiais do indivíduo, poder-se-ia manter-se como ser social apenas satisfazendo seus próprios interesses individuais a longo prazo as custas de gratificações efêmeras imediatas. Tal indivíduo burguês não entendia-se como oposto ao coletivo, mas como parte de uma sociedade que só atingiria o mais alto grau de harmonia através da competição incondicional dos interesses individuais.
A espelho da sociedade helênica desenvolveu-se o ocidente. O desenvolvimento da indústria, da tecnologia e dos veículos de comunicação, fortaleceu o consumo de bens materiais com a concepção de preconizar o individuo como ser único, diferentes entre si. Porém tal concepção funciona de fato como um massificador de indivíduos, impondo e uniformizando o comportamento.
Cada vez mais, repetimos e imitamos as circunstâncias que nos rodeiam, sem perceber o quanto de fato abandonamos atributos intrínsecos em troca de nos assemelharmos a um padrão! A fim de nos adequarmos, nos enquadrarmos como membros de grupos, e organizações cada vez mais ordenados.

“Assim como a criança repete as palavras da mãe, e os mais jovens repetem maneiras grosseiras dos mais velhos que os submetem, assim também o alto-falante gigantesco da cultura industrial, berrando através da recreação comercializada e dos anúncios populares – que cada vez menos se distinguem uns dos outros – reduplicam infinitamente a superfície da realidade.” (HORKHEIMER, MAX, 2002, P. 146)

                                                            Postado por: Arianne M. Bairros

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