“Quanto
mais intensa é a preocupação do indivíduo com o poder sobre as coisas, mais as
coisas o dominarão, mais lhe faltarão os traços individuais genuínos, e mais a
sua mente se transformará num autômato da Razão formalizada”. (HORKHEIMER, MAX,
2002, P. 134)
Não é incrível como o homem colocou-se
no centro de tudo? Como o uso da razão facultou a fantasia do domínio sobre a
natureza, e como tal quimera trouxe-nos aos dias atuais sendo mais dominados
que dominantes?
A predominância da polis constituindo equilíbrio entre o
estado e seus membros, indivíduos “moldados” a imagem do herói grego, sempre
subordinados, ao desejo de adequarem-se aos arranjos da sociedade urbana,
contrapondo muitas vezes suas condições econômicas e sociais, protagonizam a
crise atual do indivíduo.
Se uma vez para a “raça helênica” o
indivíduo ético que constitui a polis, precisa
buscar o bem e para tal precisa ser homem, proprietário e aristocrata, onde
poderíamos chegar se não nesta configuração de sociedade consumista em que
vivemos? Se já na antiguidade o possuir era fator primordial para se fazer
enxergar, para ser ouvido, para se ter poder de argumentação, para ser cidadão!
Mais tarde a era da livre empresa,
trouxe a “sensação” de que individualidade era apenas satisfazer interesses
materiais do indivíduo, poder-se-ia manter-se como ser social apenas
satisfazendo seus próprios interesses individuais a longo prazo as custas de
gratificações efêmeras imediatas. Tal indivíduo burguês não entendia-se como oposto
ao coletivo, mas como parte de uma sociedade que só atingiria o mais alto grau
de harmonia através da competição incondicional dos interesses individuais.
A espelho da sociedade helênica
desenvolveu-se o ocidente. O desenvolvimento da indústria, da tecnologia e dos
veículos de comunicação, fortaleceu o consumo de bens materiais com a concepção
de preconizar o individuo como ser único, diferentes entre si. Porém tal
concepção funciona de fato como um massificador de indivíduos, impondo e
uniformizando o comportamento.
Cada vez mais, repetimos e imitamos as
circunstâncias que nos rodeiam, sem perceber o quanto de fato abandonamos
atributos intrínsecos em troca de nos assemelharmos a um padrão! A fim de nos
adequarmos, nos enquadrarmos como membros de grupos, e organizações cada vez
mais ordenados.
“Assim
como a criança repete as palavras da mãe, e os mais jovens repetem maneiras
grosseiras dos mais velhos que os submetem, assim também o alto-falante
gigantesco da cultura industrial, berrando através da recreação comercializada
e dos anúncios populares – que cada vez menos se distinguem uns dos outros –
reduplicam infinitamente a superfície da realidade.” (HORKHEIMER, MAX, 2002, P.
146)
Postado por: Arianne M. Bairros